Resenha Crítica: O Mercador de Veneza (2004)

Matheus O. Silva
5 min readNov 9, 2023

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Crédito: Pixabay

O escritor e diretor estadunidense Michael Radford, reconhecido internacionalmente por diversos trabalhos audiovisuais inspirados em obras da literatura inglesa, apresentou ao mundo no ano de 2004 (dois mil e quatro) uma adaptação cinematográfica da clássica peça teatral “O Mercador de Veneza” do poeta, romancista, dramaturgo e escritor inglês William Shakespeare, em que é relatado um acordo jurídico obrigacional entre o mercador judeu Shilorck e o negociante Antonio, assim como o seu adimplemento e a extinção do contrato conforme a lei civil da cidade de Veneza.

Ademais, é válido observar que conforme a obra original de Shakespeare, é relatado na presente obra a situação socioeconômica e cultural dos judeus, representado pelo personagem Shilorck através de adereços utilizados sobre a cabeça e a prática recorrente da usura como um dos principais meios de subsistência em um ambiente econômico na qual os judeus não poderiam exercer de forma livre todas as atividades econômicas.

Por conseguinte, tem-se em destaque na presente obra cinematográfica o pedido de empréstimo de Bassanio no valor monetário de 3.000 (três mil) ducados para Antonio com o objetivo de viajar a uma terra distante para cortejar uma jovem herdeira da rica família Belmont. Entretanto, ao perceber que não possuia o valor monetário em caixa o mesmo recorre a um negócio jurídico obrigacional de empréstimo com o mercador judeu Shirlock, na qual o mesmo propõe participar do negócio desde que seja incluída a cláusula de que em caso de inadimplemento do pagamento no período de 3 (três) meses a garantia será um pedaço de carne do corpo de Antonio no peso de 1 (uma) libra.

Em sequência, demonstra-se a cena da partida de Bassanio para a terra distante, após a celebração do contrato com Shirlock. Logo após a sua chegada a residência da jovem herdeira, o mesmo percebe que para desposa-la é necessário responder ao enigma da arca, que consiste em escolher de forma prudente uma das três arcas que repousam sob uma mesa de madeira. A primeira arca é de ouro, a segunda de bronze e a terceira de chumbo. Então, percebendo a natureza filosófica dos materiais e o seu significado, o mesmo de forma sábia escolhe a arca de chumbo que por sua vez continha em seu interior a pintura de sua amada e o direito de desposar a mesma.

Contudo, o mesmo recebe uma carta de Veneza de seu amigo Antonio, relatando o naufrágio dos navios que continham as suas mercadorias, assim como a aproximação do prazo de validade que fez com Shirlock. Tal notícia, atormenta o espírito de Bassanio que relata o infeliz fato à sua noiva, que o aconselha a partir para a cidade de Veneza em auxílio ao seu amigo, levando consigo o valor estipulado em contrato para o adimplemento da obrigação com o mercador.

Ao chegar na cidade de Veneza, o mesmo percebe que o prazo para o adimplemento da obrigação ultrapassou a data de validade. Como consequência, Shirlock ajuizou uma ação no tribunal da cidade de Veneza para a execução da cláusula contratual que previa a garantia de um pedaço de carne de Antonio como meio necessário para a extinção da obrigação.

Percebendo, o caso complexo de Antonio no tribunal de Veneza, propôs o pagamento de 6.000 (seis mil) ducados para o cumprimento do contrato. Todavia, o acordo foi recusado por Shirlock que pedia de forma expressa a execução da cláusula contratual e o julgamento foi remarcado para outra data.

Neste intervalo de tempo o tribunal de Veneza contratou os serviços jurídicos de um expoente jovem na área jurídica, que indicou em julgamento proferido algumas contradições valorativas no presente processo legal, concernentes ao pensamento substancial e procedimental das normas da cidade de Veneza e às cláusulas contratuais do referido caso, dentre os apontamentos podemos afirmar a retirada de uma libra de carne humana sem a previsão de derramamento de sangue, assim como, a existência de tentativa de homicídio expressa em cláusula contratual cível.

Logo, considerando-se os aspectos valorativos e normativos da cidade de Veneza e factuais do presente caso. O tribunal compreendeu que o mercador Shirlock violou as normas penais da cidade de Veneza, assim como, também abusou da boa-fé do negócio jurídico firmado entre as partes. Portanto, para a resolução do presente litígio, o tribunal promoveu um acordo entre o comerciante Antonio e Shirlock, na qual o mercador teve que converter-se ao cristianismo e cumprir outros requisitos formais para a solvência do contrato e o perdão judicial.

Em consequência ao ato deste jovem na resolução do conflito, Bassanio e seu amigo foram ao encontro do mesmo após a audiência no tribunal por ter ajudado a salvar Antonio da cobrança do mercador. Oferecendo-lhe dinheiro como forma de agradecimento, na qual o mesmo prontamente recusou, mas pediu as suas alianças e a luva de Bassamio.

Ao retornar para a sua residência sem a sua aliança, a esposa de Bassanio perguntou-lhe onde estava a sua aliança de matrimônio, na qual o mesmo respondeu que teve que entregá-lo ao jovem que salvou a vida de seu amigo. Por fim, após um breve diálogo com a sua esposa, o mesmo compreendeu que o jovem que o tinha auxiliado na resolução do litígio na qual envolvia o seu amigo Antonio era, na verdade, a sua esposa, disfarçada de um jovem.

Ora, após o conhecimento deste fato, alegrou-se Bassanio e o seu amigo. Neste trecho acima, descrito, entende-se que Michael Radford em sua obra compôs uma parte específica para demonstrar o talento feminino na área jurídica, na qual na época de William Shakespeare era, de todo modo, restrito ao universo masculino, mudando-se o seu cenário tardiamente no ocidente em meados do final do século XX.

Em suma, compreende-se que a obra cinematográfica de Michael RadFord é de vital importância para o entendimento prático e lúdico do direito das obrigações ao demonstrar as implicações do entendimento substancial (representado pelos valores) e procedimental (demonstrado através do processo legal) presente tanto na peça original do autor inglês William Shakespeare, quanto na presente obra audiovisual.

REFERÊNCIAS:

O MERCADOR DE VENEZA. Direção: Michael Radford. Produção: Cary Brokaw, Michael Lionello Cowan, Barry Navidi e Jason Piette. Elenco: Al Pacino, Jeremy Irons, Lynn Collins, Kris Marshall, Joseph Fiennes, Charlie Cox e Zuleikha Robinson. Roteiro: Michael Radford. Estados Unidos da América: Movision, 2004. 1 vídeo (131 min). Disponível em: https://www.primevideo.com/detail/O-Mercador-de-Veneza/0U46MYUU0KDSTLK6LI7FCO 7VIQ?language=pt_BR . Acesso em: 26 abril. 2023.

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Matheus O. Silva
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Escrevo sobre atualidades, tecnologia, geopolítica e assuntos jurídicos.